CONTARDO CALLIGARIS é psicanalista, doutor em psicologia clínica e colunista da Folha de São Paulo. Italiano, hoje vive e clinica entre Nova York e São Paulo.
Autor de vários títulos de sucesso, entre eles: Cartas a um Jovem Terapeuta e A adolescência
No livro “A adolescência”, Calligaris inicia com uma breve história fictícia à qual convida o leitor a fazer parte: após um acidente aéreo em algum lugar desconhecido da Amazônia, os sobreviventes são adotados por uma tribo de índios que os acolhe muito bem apesar de nunca terem tido contato com a civilização. Nos próximos 12 anos de convivência esses sobreviventes aprendem os costumes, a linguagem e as leis dessa tribo e passam a se sentir como parte dela. Aprendem que nessa sociedade, é importante se sobressair e adquirir destaque. Para tanto seria necessário se especializar em um dos campos que nessa sociedade, oferecem mais status. Os acolhidos absorvem a cultura dessa sociedade, observam, treinam e se especializam na pesca ou em serenatas com berimbau, que são as atividades que mais oferecem destaque e agora, próximo dos 12 anos de aprendizado, já se sentindo fortes, treinados e prontos o bastante para desafiar qualquer um nessas atividades, recebem a informação dos anciãos da tribo que deveriam aguardar mais dez anos para isso, pois talvez não esteja preparado o bastante. Os anciãos acrescentam ainda que esse “pequeno” atraso visa protege-los dos perigos que essas atividades representam e que teriam um prazo maior para se prepararem para vir a fazer efetivamente parte da tribo. Após a narrativa da história, o autor pergunta ao leitor como se sentiria na pele dos aspirantes a membros da tribo diante dessa prorrogação. Não é difícil de imaginar...
Através dessa figura, Contardo expõe o drama por que passa a criança, que tendo entendido quais as exigências para a entrada no mundo dos adultos e tendo para isso se preparado, encontram em determinado momento essa moratória que lhe impede de viver do modo para o qual se preparou e foi preparado.
A resposta à pergunta, conforme o autor, provavelmente seria variado: raiva, ojeriza, desprezo e enfim, rebeldia. E acrescenta ainda que se houvesse uma tribo inimiga, seria o momento de considerar uma traição. Provavelmente, o leitor que se permitisse vivenciar a situação das personagens da história, voltaria a se agrupar com os companheiros do avião, que a essa altura estariam enfrentando a mesma situação, e acabariam constituindo uma espécie de tribo na tribo, outorgando-se mutuamente o reconhecimento que a sociedade parece temporariamente negar a todos, esse raciocínio parece explicar os motivos do período conturbado que é a adolescência, que além de coincidir com as alterações fisiológicas decorrentes da entrada na puberdade, coloca o jovem diante de um período de suspensão, onde não encontrando o reconhecimento como adulto na sociedade, vai buscá-lo com seus pares, tudo perfeitamente visualizável no dia-a-dia e quem se permitir lembrar-se de si mesmo nessa fase, vai achar que faz sentido.
O autor afirma que a imposição dessa moratória já seria razão suficiente para que a adolescência assim criada e mantida fosse uma época da vida no mínimo inquieta. O jovem aprende os valores agradáveis à sociedade e entre eles o ideal da independência e quando está preparado para exercê-lo a moratória lhe veta esse ideal, condenando-o a ser dependente por mais algum tempo. Outro paradoxo é a frustração em função da moratória e a imposição que ele seja feliz, pois a idealização que sofre a adolescência a descreve como um momento de muitas felicidades. Junta-se a tudo isso a incerteza decorrente do saber quando inicia a adolescência e o não saber quando termina.
Segundo Calligaris, a adolescência é uma criação relativamente nova, fruto de nossa época, e essa criação passa a ser problema quando o olhar dos adultos não reconhece nos jovens os sinais da passagem para a idade adulta. O adolescente olha para si no espelho e constata que não é mais criança e para crescer renuncia àquela proteção e solicitude que sua imagem infantil lhe garantia, para poder ter o reconhecimento que agora julga merecedor. Diante disso se encontra num momento, certamente desagradável, em quer não se julga mais criança e não consegue ser reconhecido como adulto. Entre a criança que se foi e o adulto que ainda não chega, o espelho do adolescente é freqüentemente vazio. Podemos entender então como essa época da vida possa ser campeã em fragilidade de autoestima, depressão e tentativa de suicídio. Esse trecho extraído do texto de Calligaris faz entender a gravidade que pode ter esse momento da vida onde a insegurança é um dos traços mais marcantes.
Outra idéia interessante presente no livro, dá a entender que o problema não está somente no adolescente em relação aos adultos, mas também nos adultos em relação aos adolescentes, além do fato dos adultos serem contraditórios nos seus pedidos e exigências (conscientes e inconscientes), querem que de alguma maneira os adolescentes realizem seus ideais que não puderam realizar ou então de reprimirem no adolescente o que não á toa reprimiram em si mesmos.
No decorrer da obra, o autor fala sobre o adolescente delinqüente; toxicômano; que se enfeia; barulhento, etc. todos atrás de reconhecimento, buscando por outras vias o que a sociedade de adultos lhes nega.
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