quarta-feira, 18 de setembro de 2013

TDAH
TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE

            O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é uma complexa desordem comportamental que leva a criança a graus variáveis de comprometimento na vida social, emocional, escolar e familiar. É marcado por distúrbios motores, perceptivos, cognitivos e comportamentais que geram dificuldades globais no desenvolvimento infantil. Esses sinais devem obrigatoriamente se manifestar-se na infância, mas podem perdurar por toda a vida, se não for devidamente reconhecidos e tratados.
            No decorrer dos anos houve inúmeras mudanças na nomenclatura que refletiram tendências históricas no conceito da origem deste transtorno, bem como em seus aspectos essenciais. Em 1947, Strauss e Lehtinen chamavam o TDAH de “Síndrome de Lesão Cerebral Mínima”. Em 1962, graças a falta de comprovação de alteração neurológica, ficou conhecida como “Disfunção Cerebral Mínima”
            Na década de 50 a atividade motora excessiva apresentada por esses pacientes foi valorizada  como condição primária para o diagnóstico. No DSM-II (Classificação de Transtorno Mentais da Associação Norte-Americana de Psiquiatria – 1968) a nomenclatura foi alterada para “Síndrome Hipercinética da Infância”, enquanto que, em 1987, o mesmo DSM revisado (DSM-III), passou a classificar o quadro como “Distúrbio do Déficit de Atenção por Hiperatividade”, em que a inquietação era o elemento essencial. Somente em 1994, no DSM-IV surgiu a nomenclatura atual de  “Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade”.
           
            CAUSAS
         Estudam apontam a predisposição genética e a ocorrência de alterações nos neurotransmissores (dopamina e noradrenalina) que estabelecem as conexões entre os neurônios na região frontal do cérebro como as principais causas do transtorno do déficit de atenção. Algumas pesquisas indicam que fatores ambientais e neurológicos podem estar envolvidos, mas ainda não há consenso sobre o assunto.

            SINTOMAS
         Desatenção, hiperatividade e comportamento impulsivo são sintomas do TDAH com reflexos negativos no convívio social e familiar, assim como no desempenho escolar ou profissional dos portadores do transtorno. Esses sintomas podem se manifestar em diferentes graus de comprometimento e intensidade. Quando predomina a desatenção, os pacientes apresentam dificuldade maior de concentração, de organizar atividades, de seguir instruções, e podem saltar de uma tarefa inacabada para outra, sem nunca terminar aquilo que começaram. São pessoas que se distraem com facilidade e frequentemente esquecem o que tinham para fazer ou onde colocaram seus pertences. Não conseguem também prestar atenção em detalhes, demoram para iniciar as tarefas e cometem erros por absoluto descuido e distração, o que pode prejudicar o processo de aprendizagem e atuação profissional.
            Nos casos em que prevalecem a hiperatividade, os portadores dos distúrbios são inquietos, agitados e falam muito. Dificilmente conseguem participar de atividades sedentárias e manter silêncio durante as brincadeiras ou realização dos trabalhos. Se é a impulsividade que se destaca os sinais mais marcantes são a impaciência, o agir sem pensar, a dificuldade para ouvir as perguntas até o fim, a precipitação para falar, e a intromissão nos assuntos, conversas e atividades alheias. Na adolescência e na vida adulta, os sintomas de hiperatividade costumam ser menos evidentes, mas as outras dificuldades permanecem inalteradas e os prejuízos se acumulam no dia a dia com reflexos negativos sobre a autoestima.

            DIAGNÓSTICO
         Para efeito de diagnóstico que é sempre clínico, os sintomas devem se manifestar-se na infância, antes dos sete anos, pelo menos em dois ambientes diferentes (casa, escola, lazer, trabalhos), durante seis meses no mínimo. Devem também ser responsáveis por desajustes e alterações comportamentais que dificultam o relacionamento e a performance dos portadores nas mais diversas situações.

            TRATAMENTO
         O tratamento varia de acordo com a existência, ou não, de comorbidades ou de outras doenças associadas. Basicamente, consiste em psicoterapia e na prescrição de metilfenidato (ritalina), um medicamento psicoestimulante, e de antidepressivos. Crianças podem exigir os cuidados de equipe multidisciplinar, em função dos desajustes pedagógicos e comportamentais associados ao TDAH. Em geral, os efeitos benéficos da medicação aparecem em poucas semanas e as reações adversas, como insônia, falta de apetite, dores abdominais e cefaleia, são leves e ocorrem no início do tratamento, enquanto o organismo não desenvolveu tolerância a essas drogas.

            RECOMENDAÇÕES
         É importante admitir que:
* As falhas de atenção e a hiperatividade de algumas crianças podem não ser características do temperamento e personalidade, nem de má educação, mas sintomas de uma doença que pode ser controlada;
* Não é má vontade, mas os portadores do transtorno realmente têm enorme dificuldade para organizar as atividades do dia a dia, manter horários e planejar o futuro;
*  A necessidade de desenvolver algumas técnicas para compensar as dificuldades próprias do TDAH (uso de agenda, lugar fixo para guardar os objetos, lembretes colocados em posições estratégicas e em quadros de avisos, lista de tarefas e dos compromissos diários e semanais) exige muito esforço e disciplina;
* Pais e professores devem manter-se informados sobre as características da doença e intervenções que podem ajudar os pacientes a superar suas limitações;
* A psicoterapia pode mostrar um caminho eficaz para a recuperação da autoestima, quase sempre comprometida pelos sentimentos de fracasso e frustração provenientes das dificuldades de lidar com situações rotineiras.




REFERÊNCIAS

           

        





segunda-feira, 9 de setembro de 2013

SENSOPERCEPÇÃO E SUAS ALTERAÇÕES



Sensopercepção – O termo sensopercepção é utilizado para se referir a processos complexos através dos quais tomamos conhecimento do mundo. Ou seja, a sensopercepção é a primeira etapa de nosso processamento cognitivo. Esses processos são basicamente sensitivos, sejam eles periféricos ou centrais (de 1ª ordem), e perceptivos (2ª ordem). Em virtude de dificuldades de se distinguir que etapa está afetada em certos fenômenos psicopatológicos, consagrou-se o uso do termo sensopercepção.


Alterações da sensopercepção
Alterações quantitativas
Agnosia: Termo criado por Freud que literalmente significa não conhecer. É um distúrbio do reconhecimento visual, auditivo ou tátil, na ausência de déficits sensoriais (periféricos ou centrais). As sensações podem ocorrer, mas não são percebidas ou não são associadas.
Hiperestesia: Aumento global da intensidade perceptiva. As impressões são mais intensas, mais vívidas ou mais nítidas, podendo também ser mais desagradáveis. Ex: mania, intoxicações, algumas crises epilépticas, quadros dissociativos, na “ressaca, na ansiedade.
Hipoestesia: Diminuição global da intensidade perceptiva. As imagens são mais escuras, sem brilho; a comida é insossa; os sons são abafados etc. Ex: quadros de estupores na depressão ou na esquizofrenia; rebaixamento do nível de consciência.
Anestesia: Abolição da sensibilidade. Encontrada nas mesmas situações da hipoestesia, e ainda em quadros dissociativos (cegueira ou surdez histérica).
Alucinações negativas: Aparente ausência do registro sensorial de determinado objeto presente no campo sensorial.
Macropsia: Percepção de objetos aumentados de tamanho.
Micropsia: Objetos parecem menores do realmente são.
Dismegalopsia: Objetos parecem deformados, com partes aumentadas, partes diminuídas.
* A macropsia, a micropsia e a dismegalopsia ocorrem mais comumente em quadros de delirium, na epilepsia de lobo temporal, na esquizofrenia, nos transtornos alimentares e na intoxicação por alucinógenos.

Alterações qualitativas
Ilusões: Do latim, illusionem, significa engano, miragem, ludíbrio. É a percepção falseada, deformada, de um objeto real e presente, um outro objeto é percebido no lugar do original, a deturpação da imagem se dá por uma mescla entre a imagem perceptiva e uma imagem representativa. Nossos sentidos são simplesmente enganados por uma variável circunstancial (iluminação, distância, efeitos ópticos, etc.) ou se deixam superar por alguma emoção. Podem ocorrer tanto em pessoas com ou sem transtorno. São classificadas em: Ilusão por desatenção, ilusão catatímica e ilusão confusional.
Pareidolia: Uma imagem, fantástica e extrojetada, é criada intencionalmente a partir de percepções reais de elementos sensoriais incompletos ou imprecisos. Ocorre em pessoas normais e é relacionado à atividade imaginativa. Diferencia-se da ilusão pela consciência da irrealidade da imagem e da sua influência voluntária sobre essa.
Alucinação: Do latim alucinare, que significa dementado, enlouquecido, sem razão. É a percepção clara e definida de um objeto sem a presença do objeto estimulante real. Nas alucinações verdadeiras há todas as características de uma imagem perceptiva real. As alucinações verdadeiras possuem irresistível força de convencimento, ou seja, são aceitas pelo juízo da realidade, por mais que pareçam para o próprio paciente estranhas ou especiais. A possibilidade de se suprimir uma alucinação através argumentação sensata é decididamente nula e, caso isso aconteça, não estaremos diante de uma alucinação genuína, mas de um engano sensorial.

TIPOS DE ALUCINAÇÕES
* Alucinações visuais
* Alucinações auditivas
* Alucinações táteis
* Alucinações olfativas
* Alucinações Gustativa
* Alucinações cinestésicas


REFERÊNCIAS

psiquiatriaufmg.blogspot.com













domingo, 8 de setembro de 2013

RESGATE DE JOVENS CARENTES E MARGINALIZADOS


Fala-se muito em ações solidárias ou atitudes que incentivem à prática social, como ajudar pessoas necessitadas, excluídas e marginalizadas, entretanto, a própria sociedade exclui. A exclusão social se evidencia na ausência de valores humanos, revelando um mundo vinculado ao mercado competitivo, onde o domínio da matemática e da gramática é a proposta educativa para a formação, a qual visa ao vestibular e posteriormente ao mercado de trabalho. E como ficam os jovens que não tem acesso a essa informação? A resposta parece ser óbvia: ficam no submundo do narcotráfico, da prostituição e da delinquência, cujos efeitos são devastadores para a sociedade. Tanta energia e potencial criativo de milhões de jovens, perdidos pela falta de acesso à educação e a formação profissional.


PROJETO PESCAR
O Projeto Pescar, idealizado e criado pelo gaúcho, Geraldo Tollens Linck na década de 70, teve por inspiração o conhecido provérbio chinês: “Se deres um peixe a um homem faminto, vais alimentá-lo por um dia; porém, se o ensinares a pescar, vais alimentá-lo por toda a vida”. (Lao Tsé). Em um período de silêncios e incertezas, a iniciativa, a princípio utópica, do empresário destoava do regime daquele momento, pois a ditadura militar não só limitava as liberdades, como também vigiava, através da censura, quaisquer ações desencadeadas pela sociedade civil.
O sonho de concretizar uma ação que oportunizasse o resgate de jovens carentes e marginalizados surgiu quando o empresário, ao sair de uma reunião, na sede da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul, assistiu a um assalto. Aquela cena o marcou sobremaneira: um adolescente de pouco mais de 14 anos havia assaltado um idoso no centro da capital gaúcha. Passada a revolta do primeiro momento, o senhor Linck resolveu, por sua conta, iniciar um trabalho de ajuda de meninos e meninas pobres. Porto Alegre contava então com quase um milhão de habitantes e enfrentava os problemas normais de uma grande metrópole: violência e pobreza.
Esse era o cenário da época, quando surgiu o PESCAR, um projeto que tinha nos slogans “oportunidades que transformam vidas” e “empresa socialmente responsável”, os pensamentos e ações dos empresários envolvidos. Pioneiro no Estado, o PROJETO PESCAR norteou-se pela qualificação de jovens que, em sua maioria, viviam em situação de pobreza e exclusão social. Jovens que sentiam perder a sua autoestima e a sua identidade de pertencer a um grupo social organizado, pois além de emprego e renda, faltavam-lhe o acesso à moradia decente, à cultura e aos serviços sociais, como educação e saúde.
Atualmente, já são mais de treze mil jovens atendidos pela fundação em todo o Brasil, desde a sua criação. Com sede em Porto Alegre, possui núcleos em outros estados, entre eles, Santa Catarina, São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Ceará, Pernambuco e Bahia. Também possui unidades na argentina e Paraguai. Desta forma, a experiência bem sucedida do senhor Linck se expandiu pelo País e exterior, transformando-se na Fundação PROJETO PESCAR, uma organização não governamental, sem fins lucrativos, e que possui, como mantenedoras, uma série de empresas privadas e públicas.
Na Companhia de Processamento de Dados do Estado do Rio Grande do Sul, a PROCERGS, o Projeto Pescar foi introduzido em 2006, tornou-se uma das iniciativas do Programa de Responsabilidade Social da Empresa, O PROCERGS SOCIAL. Desde então, a cada final de ano, após encerrar-se o ciclo de aprendizagem e de estágios em alguns setores da Companhia, formam-se jovens que são imediatamente encaminhados ao mercado de trabalho. São adolescentes que, ao concluir o PESCAR, podem vislumbrar uma nova perspectiva de vida. Isso se verifica no testemunho de alguns alunos, para eles o Projeto significa a possibilidade de uma nova vida. Conforme Tahylyne Almeida, umas das alunas de 2009, a experiência foi enriquecedora: “O Projeto Pescar agregou muitas coisas na minha vida, fez com que eu olhasse o mundo de outra forma.Me fez que todos os meus sonhos poderiam virar realidade. É só querer, correr atrás e, principalmente, se qualificar para que se torne real”.
Sob a orientação de uma assistente social, que é uma funcionária da empresa, o projeto desenvolve-se nas dependências do Centro de Treinamento, situado à zona sul da cidade, no bairro tristeza, e tem por objetivo não só a transmissão de conteúdos relacionados à informática área de atuação da Companhia, como também outros temas que dizem respeito principalmente à cidadania.


CAMPO DE ESTÀGIO
Este ano o Centro Universitário Metodista (IPA), formalizou uma parceria com a PROCERGS para campo de estágio na área da psicologia, foi nesse espaço em que me inseri para poder realizar o meu estágio de EB IV. O problema que foram poucos encontros lá realizados, em virtude das tratativas verbais e acordos que ainda se faziam necessários entre os coordenadores, tanto do IPA como da PROCERGS. Esses encontros até o momento em que aqui escrevo foram dois apenas, ainda teremos mais um na semana que vem, mas não poderei mais escrever sobre ele, por isso, aqui vou procurar sintetizar o que se passou nos dois encontros por mim presenciado.
A turma é composta de vinte e dois alunos, todos eles estudam durante a manhã, e se apresentam às 13:30min. , no Projeto Pescar, onde ficam até às 17:30min. Aliás, estudar é um dos pré-requisitos para poder participar do projeto. Neste período da tarde, eles têm aula, de informática, conteúdos com enfoque na cidadania, esportes, trabalho manuais, jogos, relações interpessoais, etiqueta pessoal e profissional. Parece ser um grupo bem unido, todos se preocupam um com o outro, o que percebi com aquele grupo foi um aspecto de família, eles se consideram uma família. Cada semana é, designado um líder da turma, essa pessoa zela por todos do grupo. Eles usam uma camisa do Projeto Pescar como uniforme. No primeiro encontro basicamente fizemos a apresentação, percebi que o acolhimento foi feito de fato por eles, ao nos receberem de forma atenciosa, sendo receptivos, demonstrando atenção, e participando de forma animada das atividades propostas. Na verdade esse grupo já está pensando na formatura que acontece no fim do ano, então nossos planos de realizar um trabalho mais aprofundado em demandas específicas, já não se fazia necessário, pois o tempo era curto. A princípio fizemos uma dinâmica de apresentação, onde eles, foram separados em dupla e foi dado um tempo para que eles conversassem entre eles, divulgando suas experiências, seus comportamentos a melhorar, seus cursos, idade, moradia, enfim suas expectativas de vida, depois cada um apresentava seu colega para nós da psicologia. Apresentar o outro remete a necessidade de saber ouvir, de empatizar-se pelo próximo, analisar e sintetizar informações, o que torna esta atividade rica a avaliação não apenas de apresentação, mas de performance. Nessa atividade houve uma boa participação de todos, o que me chamou a atenção, é o entrosamento entre eles, aliás, esse é o testemunho que ouvimos deles, que eles se respeitam e aprendem juntos, realmente eles se consideram uma família. Usamos também a dinâmica de completar as frases, uma atividade que rendeu muitas discussões e movimentou muito o grupo, eles gostaram muito desta atividade. Entendemos que esta atividade propicia de certa forma aos participantes, entender que as pessoas pensam diferentes e há espaços para diálogos abertos, entendimentos diferenciados e as mudanças adequadas depois de uma reflexão conjunta diante de todas as propostas. No último encontro senti a falta de um jovem, que era bem extrovertido, tocava violão e um de seus sonhos era ser músico, seus colegas relataram que ele foi desligado do projeto por não estar indo as aulas do colégio. Todos ali ficaram bem tristes.
CONSIDERAÇOES FINAIS
Embora tenha sido pouco tempo a minha convivência no Projeto Pescar, pude perceber claramente a diferença que faz na vida dos jovens, realmente ocorre sim um resgate desses jovens, que de outra maneira provavelmente estariam inseridos em um contexto bem diferente. Talvez muitos ainda se percam pelo caminho, mas sem dúvida muitos vão encontrar belas perspectivas de vida. Esse exemplo nos mostra o quanto se pode fazer pelos outros, o quanto as empresas podem contribuir, e o quanto nós como cidadãos também podemos participar e ajudar neste processo. Pude perceber olhando para cada rosto daqueles adolescentes, a alegria deles por estarem tendo uma chance na vida, eles demostravam alegria no que estavam fazendo. Esse espaço de estágio, é um campo muito bom para aprendizado para estágios, lamento apenas o tempo que foi muito curto. Ali também existe uma demanda muito grande para atendimento individual, que poderia ser aproveitado. Sem dúvida o PROJETO PESCAR, contribui e muito para o resgate de jovens carentes e marginalizados na busca de um novo horizonte para suas vidas, enfim um belo projeto.




REFERÊNCIAS
escolhadaprofissao.blogspot.com
pepsic.bvsalud.org- Práticas Sociais

















SOFRIMENTO PSÍQUICO NA CONTEMPORANEIDADE





Adriano Berwig
aberwig@terra.com.br
Centro Universitário Metodista (IPA)



INTRODUÇÃO





A dor é uma experiência desagradável comum a todos os homens,é um dos motivos mais frequentes de busca pela atenção médica. Como uma ação recíproca, a dor envolve efeitos benéficos e nocivos. Pode ser entendida como um processo de defesa do ser humano, um alerta, que até certo ponto pode ser considerado benéfico, pois é um indicativo para a existência de problemas. Como efeito mais negativo o significado é de sofrimento, tanto físico como psíquico, aflição, padecimento e tormento. Quando o organismo tem uma doença ou uma lesão, as terminações especiais da dor enviam mensagens ao cérebro, para informar sobre danos ou estímulos desagradáveis. Mas a dor que pretendo abordar neste artigo, não é a dor física, mas sim, a dor emocional, a dor psíquica, que por vezes resulta em alguma dor física.
A dor de fundo emocional coloca o indivíduo num sofrimento que o deixa num estado de precariedade psíquica que pode ameaçar a sua identidade. Quem padece de dor psicológica parece despojado dos prazeres e da alegria da vida, sente-se excluído, privado, num sofrimento, muitas vezes incomunicável.
A dor psíquica é um sentimento obscuro e difícil de definir. Pode ser definida segundo Nasio (1997), como a dor da separação (perda de um objeto ao qual se está ligado), do abandono (quando o ser amado retira subitamente o seu amor) e da humilhação (quando se é profundamente ferido no amor- próprio). Ador psíquica é vivida como um ataque aniquilador, um desmoronamento. Assim, efetivamente, a dor caracteriza-se por uma emoção negativa que expressa sofrimento, mal-estar e um padecimento devastador. A dor psíquica também é variável de indivíduo para indivíduo. Há pessoas que frente a uma dor muita intensa consegue ainda sim um controle razoável de si mesmas, enquanto outras optam por saídas pouco convencionais para enfrentar o que a dor provoca.
Se a histeria foi o modo de sofrimento mais evidente no final do século 19 e início do século 20, a depressão sem dúvida é a marca mais constante do fim do século 20 e nascimento do século 21. Um crescente avanço de casos de depressão vem sendo constatados nos consultórios médicos, psicológicos e nas unidades de saúde mental. Acredito que o profissional da psicologia na contemporaneidade se depara com um quadro bem mais complexo do que a décadas passadas, a uma necessidade de dispor e construir recursos para o trabalho de acolhida desses diversos contextos em crise da contemporaneidade. As demandas em saúde mental mobilizam não só os técnicos, mas colocam em questão as próprias práticas de atendimento problematizando acerca dos modelos tradicionais de atenção e ativando a implementação de uma clínica mais sensível a diversidade sociocultural e aos modelos contemporâneos de produção de subjetividade.
Somos afetados a todo momento, o pensar sempre no futuro, o querer estar sempre à frente e o consumo, as possibilidades de escolhas infinitas e variadas, trazem mal-estar na medida em que não se pode nuca viver tudo, ter tudo. Acredito que o sofrimento está diretamente ligado à identidade do indivíduo contemporâneo permeada pela exigência de consumo nunca satisfeita. Parece ser este o cenário contemporâneo que abre caminho também para certa intolerância ao sofrimento e com isso maior consumo de remédios pra acalmá-lo. O ideal de perfeição contemporâneo dominado pela exigência de felicidade e alegria não abre espaço para tristeza, a depressão o luto. Os psicofármacos viraram dispositivos para o ser humano lidar com a dor psíquica.

DESENVOLVIMENTO

A definição de sofrimento segundo dicionário Aulete Digital é de ação ou resultado de sofrer, dor física ou moral continuada; aflição; amargura; desgosto; penar. Ao referir sua etimologia e semântica, temos, no grego pherein e no latim ferre, carregar, suffere, carregar por debaixo, que também significa oferecer, suportar, permitir, tolerar. No século XV, o sofrimento em francês queria dizer dor e carregava ideia de resignação e de tolerância possível ou não. Desde o século XVI, sofrer remete a experimentar uma dor (Barus Michel, 2001). No século XVIII, o sofrimento para os poetas e artista do movimento romântico era algo inspirador. Para o homem da modernidade, o sofrimento é algo que precisa ser evitado a todo custo. Acreditamos que a palavra sofrimento assume diversos significados e sentidos que são demarcados por questões subjetivas e culturais. Enfim, podemos dizer que o sofrimento fala de um modo de ser do homem de cada época na história. Barus Michel entende que o sofrimento ocorre no dado momento em que:


Existe sofrimento quando a capacidade de controle e de elaboração das sensações e
das representações fica ultrapassado, quando as capacidades intelectuais se esgotam,
a repercussão emocional atravanca o psiquismo, abafando a atividade intelectual, a
capacidade imaginativa, aquela de formar novas representações.
(BARUS MICHEL, 2001, p. 02).

Me parece então, que a capacidade de criar representações está de alguma forma relacionada à maneira como o sofrimento é significado pelo sujeito diante da realidade em que se encontra. Essas diversas formas de representações e afetações diante do sofrimento é que são expressadas pelos indivíduos. São formas de expressar sofrimento vivido na atualidade.
O que vemos nos dias de hoje, é uma nova forma de adoecimento, novas fugas, novos sintomas e também velhos sintomas repaginados, decorrentes da vida moderna. Parece, que todos buscam de uma forma ou de outra, um sentido para as suas vidas, algo que motive elas a continuar lutando, trabalhando, constituindo famílias ou não, mas tendo motivações para viver. Mas o que muito se tem falado na época atual, é de um vazio existencial, da falta de sentido para a vida, sentimentos de tristeza, angústia, depressão, vontade de não mais viver, e a lista é grande. Muitos parecendo estar aprisionadas pelo medo, aprisionadas pelos valores socialmente impostos, perdidos num mundo em que muitas vezes não reconhecem, em um mundo que muitas vezes não o reconhece como sujeito.
Inegavelmente, o processo de globalização tem contribuído para o modo como somos afetados nos dias de hoje, os aparatos tecnológicos incríveis que possibilitam o acesso às mais diversas áreas do conhecimento, tornam o dia a dia mais ágil, prático, um mundo inteiro pode ser acessado por clique, temos hoje a facilidade de um mundo virtual ao alcance das mãos.
Existe uma enorme facilidade de realizar contatos entre pessoas que se encontram em outras cidades, em outros países, em outros continentes. E em meio a tantas facilidades decorrentes da evolução tecnológica que aproxima o mundo, o homem moderno parece ter deixado de encontrar-se com ele mesmo, de encontrar-se com os outros. Os efeitos desse novo modo de vida estão escancarado na contemporaneidade.
Safra (2006) chama a atenção para o que ele denomina de uma experiência de solidão insuportável presente nas pessoas em seu consultório. Ele aponta essa experiência como sendo uma questão importante no mundo atual, no qual as pessoas não encontram um lugar, “as pessoas se sentem não pertencendo a uma comunidade. O que as leva a se sentirem para fora do mundo humano” (p.26).
Neste mesmo sentido, Cruz (2003) ressalta, quando afirma que “a vida necessita antes de tudo reconhecimento. Não basta um corpo existir e poder circular: é preciso inserir-se nos diferentes níveis de troca. No mercado de trocas, na relação” (p.52).
Vivemos sem dúvida mundo competitivo, as pessoas estão vivendo em uma constante disputa por um lugar de destaque, um insano projeto de felicidade, que inclui muitas vezes um carro importado, um corpo construído na clínica de estética, compras nas lojas mais conhecidas dos shoppings. É preciso ser VIP, é preciso ser notado, é preciso ser celebridade. Ao surgir um traço de tristeza ou desencantamento pela vida, faça compras e tudo melhora. Somos bombardeados todos os dias por essa ilusão de felicidade, estamos sendo afetados a todo o momento.
E o que dizer de uma parte da população, que também por ser afetada também deseja, mas que na verdade não tem a mínima condição para conquistar este projeto insano de felicidade, por simplesmente não ter o alimento na mesa. Tentam das mais possíveis formas, entrar nesta fatia globalizada, neste mundo ilusório de felicidade.
Para Peixoto Júnior (2003), estamos diante de um sintoma social. Ele afirma que esse sintoma “torna os sujeitos meros consumidores de produtos que lhes prometem o gozo de uma existência supostamente plena, e paradoxalmente, os tornam cada vez mais insatisfeitos” (p.160).
Vivenciamos na contemporaneidade, conforme ressalta Berman (1987), a típica sociedade do consumo, na qual os valores morais se transformaram em valores de mercado. O poder da escolha favorecido pela cultura do consumo ganha poder na vida interior da vida dos indivíduos, além do viés econômico intrínseco ao ato de consumir, há ainda um viés existencial. Qualquer conduta pode tornar-se socialmente aceitável se for economicamente viável, como se a dignidade e a honra humanas ganhassem etiquetas de preço, assim como as mercadorias.
Assim é que a sociedade de consumo priva pela diversidade de opções, favorecendo desejos que jamais poderão ser totalmente satisfeitos. Consome-se tudo, produto, relações, empregos, serviços. Porém, como o leque de escolhas é vasto e há sempre mais opções a serem escolhidas, os indivíduos acreditam que podem sempre conseguir “algo melhor” por este motivo não constituem hábitos constantes e nem se satisfazem com o que consumiram. O que não tem serventia é descartado, em prol da sedução que levará ao consumo de um novo “bem”, melhor e mais adequado do que de outrora (Bauman, 1998).
De acordo com Lash (1990) a sociedade de consumo estimula o narcisismo, pois os indivíduos tornam-se frágeis e dependentes, embora livres, o que os faz ver o mundo como um espelho ,projetando nele seus medos, anseios e desejos. Sentindo-se desprotegido pela sobrecarga de informações da sociedade contemporânea, com excessos de estímulos e imagens, de propagandas e do apelo ao consumo, o indivíduo refugia-se em si mesmo, contando com o narcisismo para poder sobreviver. “confrontadas a meio ambiente aparentemente implacável e ingovernável, as pessoas voltam-se para autogestão”(p.48).
Ainda assim, a cultura hedonista emerge como um novo narcisismo da atualidade: é preciso ter prazer sem precisar esperar por ele. Como não se constrói nada a longo prazo, pois o futuro é incerto e repleto de desencantamento e desconfiança, é preciso aproveitar as oportunidades sempre que estas aparecerem, deleitar-se com o prazer e não se importar com a enfermidade das sensações que o acompanham (Lipovestky & Charles, 2004).
Malhar horas na academia e seguir dietas à risca a fim de retirar todo excesso de gordura tão indesejável são mecanismos para tornar o corpo ágil e preparado para os desafios da pós-modernidade, exibi-lo é gratificante e significa sucesso individual. Porém, o fracasso na busca da perfeição do próprio corpo é considerado atestado de vergonha, culpa e incapacidade, sentimentos que abalam o íntimo do ser humano, contribuindo para o sofrimento psíquico.
Dessa mesma forma, é que os distúrbios alimentares ganham tanto espaço em nosso tempo: obesidade, anorexia e bulimia são alguns dos exemplos desta realidade.
A pós-modernidade zela a todo momento a impossibilidade dos indivíduos permanecerem parados, buscando sempre e sempre a satisfação que nunca chega, uma vez que a realização adiante e não no momento presente. Assim a vida pós-moderna é um amontoado de momentos, que por trazerem consigo a impossibilidade de satisfação total ao indivíduo, torna a vida efêmera e fugaz.
Diz-se então que a velocidade exacerbada com que a contemporaneidade articula mudanças e transformações na vida social chegou ao seu próprio limite, dando lugar à instantaneidade que se produz tanto na realização imediata quanto no desaparecimento do interesse. “Era da instabilidade significa a gratificação evitando as consequências” (Bauman, 2000, p.148).
A pós-modernidade trouxe um sentimento intrínseco ao contexto atual, que se refere a incerteza presente na vida dos indivíduos. “Nenhum emprego é garantido, nenhuma posição é inteiramente segura, nenhuma perícia é de utilidade duradoura, a experiência e a prática se convertem em responsabilidade logo que se tornam haveres, carreiras sedutoras muito frequentemente se revelam vias suicidas” (Bauman, 2000, p.34).
Esta incerteza leva os indivíduos a contarem unicamente consigo mesmos para “vencer na vida” e conquistar as metas de uma vida idealizada potencialmente mutável e nunca satisfeita. Por esse motivo é que se vê em na contemporaneidade indivíduos cada vez mais solitários, buscando incansavelmente um sentido de ser no próprio isolamento.
O que se na atualidade é um grande paradoxo quando se trata das relações humanas. Os indivíduos estão ávidos por relacionar-se, vorazmente desejando encontrar no outro qualquer sinal que valha a pena estabelecer laços afetivos e que estes trarão satisfação à carência e à necessidade de contato. Mas, ao mesmo tempo, o medo e a insegurança próprios dos nossos tempos e nos fazem recuar e permanecer no isolamento.









CONSIDERAÇÕES FINAIS

É necessário prestar atenção, todo contexto de evolução das tecnologias, vividos por nós no mundo moderno, também tem gerado novas demandas. Contraditoriamente a toda essa evolução, estamos diante de graves e antigos problemas sociais, cada vez mais gerados e mantidos pelas condições sub-humanas de sobrevivência, pelo sofrimento causado pela violência, pela miséria, pelo descaso, pela voracidade em que nossa sociedade quer consumir. Não suportando com o desconforto existente nessa condição de desamparo, nos deparamos com um aumento cada vez maior de tentativas de resolução dos paradoxos que nos rodeiam, o que aponta para uma dificuldade bem típica do mundo que nos constitui, que é a dificuldade de se reconhecer como um ser lançado no mundo, vulnerável, exposto à fragilidade, ao sofrimento, à frustração, à velhice, a morte, a finitude assusta o homem. E é tentando lutar com esses paradoxos e controlar o incontrolável que o homem contemporâneo cada vez mais restringe o sentido do seu existir aos comportamentos fóbicos e ansiosos por exemplo. Portanto, as demandas apresentadas nos serviços de psicologia representam talvez um pedido de ajuda da sociedade, o que de alguma forma, acredito que deva ser repensado, o mundo contemporâneo nos traz novas demandas e solicitações. Os desafios da clínica contemporânea são inúmeros e as demandas em saúde mental ilustram mal-estar e sofrimento mental, relacionados no contexto sociopolítico e econômico.
Diante destes fatos, verifica-se que o profissional de psicologia tem se deparado com a necessidade de dispor e construir recursos para o trabalho de acolhida desses diversos contextos em crise na contemporaneidade. As demandas em saúde mental, mobilizam não só os técnicos, mas colocam em questão as próprias práticas de atendimento problematizando acerca dos modelos tradicionais de atenção e ativando a implementação de uma clínica sensível à diversidade sociocultural e aos modos contemporâneos de produção de subjetividade.























REFERÊNCIAS


Bauman, Zygmunt. O mal-estar da pós-modernidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.
BAUMAN, Z. Em busca da política. Tradução de M. Penchel. Rio de Janeiro: J. Zahar. 2000.
Barus-Michel, J. (2001). Intervir enfrentando os paradoxos da organização e os recuos do ideal. In J. N. G. de Araújo & T.C. Carreteiro (orgs), Cenários sociais e abordagem clínica (p.174). São Paulo: Escuta.

Berman, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar. São Paulo: Companhia das letras.

Lash, J.D. O mínimo eu. Sobrevivência psíquica em tempos difíceis. J.R. M. Filho. 5ª edição, São Paulo: Editora Brasiliense.

LIPOVETSKY, Gilles: CHARLES, Sébastien Os Tempos Hipermodernos. São Paulo: Barcarolla, 2004.

NASIO, J.D O livro da dor e do amor. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.

Safra, G (2004). A po-ética na clínica contemporânea. São Paulo: Ideias e Letras.





quarta-feira, 4 de setembro de 2013


CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DO PSICÓLOGO
UM BREVE COMENTÁRIO

 Entendo que o Código de Ética se faz necessário em todas as profissões, o código estabelece padrões esperados quanto às práticas referendadas pela respectiva categoria profissional e pela sociedade. O Código de Ética do Psicólogo procura orientar acima de tudo o profissional, procura fomentar a autorreflexão a respeito de sua práxis. A missão primordial, e isso me chamou bastante a atenção lendo o código, não é normatizar a natureza técnica do trabalho, e, sim, a de assegurar, dentro de valores relevantes para a sociedade e para as práticas desenvolvidas, um padrão de conduta que fortaleça o reconhecimento social daquela categoria”. Ou seja, a partir do momento em que o indivíduo se torna profissional de uma categoria, ele passa de certa forma a representar esta categoria, acima de tudo ele precisa fortalecer e não enfraquecer esta categoria.
  O Código é a expressão da identidade profissional daqueles que nele vão buscar inspirações, conselhos e normas de conduta, ele é, ao mesmo tempo, uma pergunta e uma resposta. Mas, não é só o Código que confere a identidade do Psicólogo, mas sim, sua participação nas perguntas fundamentais do mundo moderno, especialmente através de seu engajamento em propostas concretas de uma visão aberta do mundo voltada para o social e o político.
   Um Código de Ética deve juntar os grandes princípios teóricos e a prática do cotidiano, o  código é a fonte da reflexão ética não dissociada da prática profissional. O código de ética não estigmatiza ou define comportamentos padrões, o código é um conjunto dos princípios ideais do agir do psicólogo.