Ao assistir ao filme “Ouvindo os desejos da comunidade” é possível perceber o quanto o modelo biomédico está difundido no meio social e, em função disso, o quanto é comum que as pessoas associem saúde a uma boa oferta de serviços médicos, atendimento 24 horas para as emergências de qualquer hora e receituário farto para todas as doenças. Salvo algumas opiniões, a maioria dos entrevistados dá a entender que saúde para eles é isso: médicos no posto de saúde e prescrição de medicamentos para o momento da doença quando esta vir a existir. Essas opiniões correntes na sociedade são o reflexo do pensamento dominante na classe médica que é preparada para dar atenção à doença quando essa já está instalada, tornando necessárias as intervenções medicamentosas e/ou cirúrgicas, que conforme Fritjof Capra, freqüentemente causam mais sofrimento que a própria doença que se pretendeu extinguir.
Ainda sobre o filme, alguns dos participantes falaram em boa alimentação, sono adequado, água tratada, atenção, presença dos familiares, amor, etc. como sinônimos de saúde. Com isso se referiam a alguns elementos que garantem a manutenção da saúde. Falavam em prevenção. Ao se referirem a esses elementos, citaram inclusive fatores emocionais e talvez sem querer, fizeram um contraponto ao modelo biomédico que não considera a instância psicológica e muito menos os fatores sociais produtores de adoecimento, detendo-se apenas no corpo e nas suas subdivisões possíveis com a intenção de localizar a doença.
O modelo biomédico é limitado por isso. Aliás, é de se questionar se essa limitação não é algo proposital. Afinal, esse modo de funcionamento é muito lucrativo para a indústria farmacêutica, para a mídia que a promove e para a própria classe médica. Assim, é possível entender o porquê da sustentação de tal modelo, pois se pelo contrário, se trabalhasse com a promoção da saúde, não haveria tanto lucro para a iniciativa privada e sim economia nos cofres públicos. À mídia cabe o papel de propagar essa idéia de corpo como algo passível de adoecimento a todo instante e altamente suscetível a invasões bacterianas, dando ao grande público uma imensa impressão de fragilidade, o que leva as pessoas a não pensar duas vezes antes de ter gastos excessivos com medicamentos e afins. Essa fragilidade “imposta” parece ser um meio de encobrir a verdade sobre as capacidades defensivas do próprio organismo. Em se tratando de mercado publicitário, não é difícil de chegar a esse pensamento.
Por promoção da saúde, entendi que se trata de orientação, atendimento humanizado, criação de grupos de apoio e de atividades físicas, campanhas de saúde direcionadas etc., ou seja, um trabalho realizado no sentido de se evitar a doença ao invés de se ter de tratar no futuro uma doença degenerativa fruto, entre outros fatores, da falta de prevenção. Vendo desta maneira é possível entender que até mesmo uma melhora na educação formal já seria uma importante política de promoção da saúde.
O modelo biomédico tem a saúde como inexistência de doença e o foco somente nesta última acabam por deixar de lado a discussão sobre o que é a saúde em sua mais ampla significação. Por isso vende-se uma falsa expectativa de cura como um retorno ao estado anterior ao adoecimento - o que se impõe como impossível - quando seria necessário auxiliar o indivíduo a encontrar novas formas de viver bem em sua nova situação.
Triste constatação a de que por trás do modelo vigente estão graves questões éticas e morais que se impõe como verdade a toda população e se sustenta ao longo do tempo. Tais “verdades” estão tão arraigadas na sociedade que para haver uma mudança de paradigma seria necessário uma profunda mudança na forma de pensar saúde, doença e cura na população, na classe médica e na universidade que a forma.
(Trabalho de Psicologia da Saúde)