Tema extremamente complexo e suscetível de muitas interpretações. O modo como o amor é tratado e vivido varia de acordo com aquele que o aborda e com o
momento: histórico, político, social e cultural em que vive.
Tal afirmação significa que o amor não é algo natural, inerente ao ser, sentido e experimentado por todos da mesma maneira.
Muito pelo contrário, o amor é sempre construído , datado e consequentemente passível de ser mantido, ordenado e alterado.
Esta possível mudança diz respeito tanto ao indivíduo quanto a sociedade ao qual ele pertence. Ela ocorre em função das expectativas e práticas amorosas e das neces –
sidades dos indivíduos, bem como do imaginário, dos costumes, das crenças e dos valo-res sociais vigentes.
Ocorre então uma discrepância entre o que o indivíduo experimenta na prática o que seja o amor e a teoria – o que ele idealiza, a sua concepção de amor.
Assim a noção e as práticas amorosas foram sendo transformadas ao longo da história a partir de mudanças históricas, religiosas, sociais e culturais, temos diversas classificações: o amor platônico, o amor cristão, amor cortês e o amor romântico.
Paralelamente ao sentimento amoroso existem algo que é da ordem do juízo, por exemplo, ao fazer uma escolha amorosa há nessa ação um julgamento no qual o indivíduo leva em conta suas experiências passadas e necessidades, seus valores, expectativas e ideais, isto é sua condição contextual de vida.
Referindo-se agora a história da sexualidade a literatura aponta para um fenômeno importante o qual teremos no ocidente, até o século XVIII diferenças com relação ao amor fora do casamento e a partir daí o amor no casamento.
Flandrin 1981 ressalta que o amor esteve na literatura ocidental pelo menos desde o século XII, mas este amor nunca é um amor conjugal.
O casamento tinha por função não somente a união de reis e rainhas, príncipes e princesas, mas a união em todos os níveis da sociedade, ligando duas famílias para que
elas se perpetuassem de acordo com seus interesses práticos, mais do que satisfazer o amor entre duas pessoas.
O amor-paixão é aqui essencialmente extra-conjugal.
A partir do século XVIII, este quadro se modifica. O erotismo extra-conjugal entra no casamento e o amor paixão é visto como modelo.
Portanto a partir do Romantismo temos a interdependência entre a sexualidade e o amor e a sua satisfação ficou como sendo essencial na relação tanto a busca da relação sexual quanto amorosa e também idéias de reciprocidade e exclusividade.
O amor entra aqui como algo revolucionário é a quebra de valores vigentes até então, agora, no Romantismo, teremos o casamento aliado ao amor e não mais a conveniências.
Para Lipovetsky- 2000 , as mulheres supervalorizam o amor porque ele implica um reconhecimento de seu direito a exercer certa dominação sobre os homens, porque preconizam comportamentos masculinos que levam mais consideração a sensibilidade, a inteligência e a livre decisão das mulheres.
Na contemporaneidade novas formas de amor e sexualidade teremos e Bauman nos fala brilhantemente sobre o tema no seu livro Amor Líquido.
Segundo o autor vivemos a época de Modernidade Líquida onde a fragilidade dos laços humanos gera também : Amor Líquido.
A insegurança inspirada por essa condição estimula desejos conflitantes de estreitar laços e ao mesmo tempo mantê-los frouxos. Z. Bauman radiografa esse amor e com essa percepção Bauman procura apreender de que forma esse homem sem vínculos figura central de nosso tempo procura se relacionar.
Em nosso mundo de furiosa individualização, os relacionamentos são bênçãos ambíguas. Oscilam entre o sonho e o pesadelo.
E não há como determinar quando um se transforma no outro.
Esses dois avatares coabitam embora em diferentes níveis de consciência.
No líquido cenário da vida moderna, os relacionamentos talvez sejam os mais comuns, agudos, perturbadores e profundamente sentidos da ambivalência.
Relacionamento o assunto mais quente do momento e aparentemente o único jogo
.
que vale a pena, apesar de seus óbvios riscos.
Bauman fala ainda em seu livro Amor Líquido sobre dois autores Mille e Dollard e seus experimentos com ratos, onde observaram que os ratos atingirão o auge da excitação e da agitação quando a atração se igualou à repulsão ou seja, quando a ameaça do choque elétrico elétrico e a promessa de comida finalmente atingiram o equilíbrio.
No auge da excitação atração é igual a repulsa.
A agitação dos ratos resultava frequentemente em paralisia da ação. A incapacidade de escolher entre: atração e repulsão ; esperança e temores.
Os homens pedem ajuda aos especialistas em troca de honorários.
Os habitantes de Leônia, cidade invisível de Ítalo Calvino, diriam que sua paixão é desfrutar coisas novas e diferentes.
E cabe indagar se a verdadeira paixão dos leoninos na realidade não seria o prazer de expelir, descartar, limpar-se de uma impureza recorrente, será que os habitantes de nosso mundo não são exatamente como os de Leônia, preocupados com uma coisa e falando outra ?
Eles garantem que seu desejo, paixão, objetivo ou sonho é relacionar-se, mas será que na verdade não estão preocupados principalmente em evitar que suas relações acabem congeladas e coaguladas ? Estão mesmo procurando relações duradouras, ou seu maior desejo é que eles sejam leves e frouxos ? Afinal que tipo de conselho eles querem de verdade: como estabelecer um relacionamento ou – só por precaução como rompê-lo sem dor e com a consciência limpa ?
Relacionamento ameaças vagas:
- prazeres do convívio x horrores da clausura
Talvez por isso em vez de relatar suas experiências e expectativas utitlizando formas como relacionar-se as pessoas falem cada vez mais em se conectar e ser conectado.
Em vez de parceiros preferem falar em rede. Quais os méritos da linguagem da conectividade que estariam ausentes da linguagem dos relacionamentos ?
Na rede temos duas possibilidades ser: conectado ou desconectados.
Nelas as conexões são estabelecidas e cortadas por escolhas.
A hipótese de um relacionamento, indesejável , mas impossível de romper é o que torna relacionar-se a coisa mais traiçoeira que se possa imaginar. Mas uma conexão indesejável é um paradoxo. As conexões são rompidas e o são, muito antes que se comece a detestá-las.
Diferente dos relacionamentos reais é fácil entrar e sair de relacionamentos virtuais, rebatizados de conexões.
Sintetizando relacionar-se torna a coisa mais pesada, mais traiçoeira diferente das conexões virtuais que são inteligentes, limpas, fáceis de usar compreende e manusear.
Quando se é traído pela qualidade busca-se a desforra na quantidade na rede.a
Bauman coloca ainda que poucas coisas se comparam tão bem como amor e morte, o amor realizado é a morte. Cada chegada de um dos dois é sempre única, mas também definitiva, não permite recurso nem prorrogação.
“ Nem no amor nem na morte pode-se penetrar dois vezes. Chegada o momento o amor e a morte atacarão, pegarão você desprevenido”. Bauman.
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